A história de Dom Quixote é conhecida. Fidalgo cavaleiro que decide sair em busca de aventuras e, obcecado por Dulcineia, uma mulher imaginária, passa a enfrentar moinhos de vento como se dragões fossem. Dizem que a pessoa por quem a gente se apaixona é sempre uma invenção. Nesse sentido, entre o célebre personagem de Cervantes e o da canção Castelo de Areia, de ZéVitor e seu fiel escudeiro Konai, não há mesmo muita diferença. “Você é fruto de um devaneio/Noite passada eu nem lembrava meu nome/Eu bebi para esclarecer e escureceu/Só percebi quando te vi indo pra longe de mim/Pra que lutar assim”.
ZéVitor, 21 anos, começou a compor rap na adolescência, buscando sua identidade musical, integrando os estilos e influências de sua geração. Sua música tem uma pegada pop, com acento forte no rap, trazendo também influências do R&B e uma rica inspiração do universo popular. Konai, 19 anos, começou a compor em 2016, quando se definia como “apenas um adolescente triste fazendo música no quarto”. Melancólico, passeia pelo rap, indie, R&B e suas referências vão de Pink Floyd e Nirvana a Milky Chance, The Neighbourhood e Artic Monkeys. Ele mesmo produz suas “sadsongs”, que no Spotify já ultrapassam os 250 milhões de plays.
Assim como a letra de Café Amargo e todos os recentes singles de ZéVitor, Castelo de Areia contém aspectos distintos e, quase sempre, complementares. Não é fácil, afinal, mesclar imagens contemporâneas, como o whatsapp, e medievais, como “castelo”, “rei” e “rainha”, sem perder o fio da meada. Sim, a letra começa com “Minha mensagem não fica azul/Você nem visualiza” e termina com “Eu vim de muito longe, cavaleiro andante/Me chamo Dom Quixote e não sou como antes”.
Num contexto atual, porém, quem pode negar que certos códigos de comunicação – ou falta de –, tenham se tornado os dragões que nos separam de nossas Dulcineias, imaginárias ou não? Se a temática predominante das canções de ZéVitor é o bom e velho amor que se desfaz, em termos estéticos sua obra vai se configurando um consistente mosaico de intertextualidades e referências místicas, da alta literatura às cartas do tarô, sem deixar de ser pop e facilmente assimilável. Uma prova disso é a HQ de Lucas Paixão que acompanha o conceito visual desse single, por assim dizer, quixotesco.
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