13 anos após o lançamento de seu último disco de estúdio “Revirão” (2006), Jorge Mautner volta a publicar um repertório musical inédito. “Não Há Abismo Em Que o Brasil Caiba” (Deck), cujo título é do filósofo português Agostinho da Silva, é um álbum produzido em parceria com o Tono, grupo de Bem Gil, Rafael Rocha, Bruno Di Lullo e Ana Lomelino, que vem acompanhando Mautner nos palcos desde 2013.
O Brasil é o tema central do disco em que Jorge não se cansa de saudar a Jesus Cristo e aos tambores do candomblé, em uma celebração incansável da amálgama brasileira, que o vem fascinando e servindo de inspiração ao longo de toda sua carreira. De José Bonifácio e Joaquim Nabuco a Dona Catulina e Marielle Franco (as duas com canções dedicadas a elas), os novos versos de Jorge nos fazem mais uma vez refletir sobre a sociedade brasileira ao mesmo tempo simples e complexa. Sua música também se nutre dessas duas características aparentemente opostas, mas que amalgamadas resultam no que há de mais precioso em nossa cultura.
Do ponto de vista da produção musical, o álbum traz pela primeira vez na discografia do Mautner uma canção gravada apenas com sua voz e o acompanhamento de seu próprio violão, “Destino”, numa tentativa de demonstrar na prática como se dá essa equação entre o primitivo e o sofisticado. A simplicidade de suas harmonias veste perfeitamente a complexidade de seu discurso. E essa foi uma das poucas exigências de Mautner em relação às escolhas estéticas de seus parceiros e produtores.
O novo disco tem como faixa de abertura a música intitulada “Ruth Rainha Cigana”, feita por Jorge em homenagem a sua relação de mais de 50 anos com a companheira Ruth, mãe de sua filha Amora e avó de sua neta Júlia, também celebradas pela canção. A faixa é uma boa amostra do que o disco traz e por isso foi escolhida para abrir os trabalhos. O fato dos discos do Jorge, principalmente os lançados na década de 70, terem influenciado fortemente o trabalho do Tono fica evidente na gravação de “Oy Vey, Oy Vey”, parceria com João Paulo Reys, registrada como um rock de temática nonsense e espírito setentista, com o uso de instrumentos elétricos e sintetizadores.
Jorge é artista nato, com grande sensibilidade, antena aberta e enorme capacidade de comunicação. Assim sendo, a notícia do assassinato da então vereadora Marielle Franco (durante o período de preparação do disco) não poderia passar sem que Jorge levantasse a voz a fim de “exterminar a doença mental, física e assassina do racismo, do anti-feminismo e do neonazismo”, como diz a canção. E das 14 faixas que compõe o disco, a única não inédita é “Yeshua Ben Joseph”, ode a “Jesus filho de José”, gravada por ele nos anos 80 com seu grande parceiro Nelson Jacobina, para quem esse novo álbum é dedicado.
Para as apresentações de lançamento do novo trabalho, Jorge se junta mais uma vez ao Tono, com Bem Gil na guitarra, Rafael na bateria e percussão, Bruno no baixo e sintetizador, e Ana Lomelino (Mãeana) nos vocais. Misturando seu repertório mais recente com os clássicos de sua obra, num eterno “maracatu atômico”. Os primeiros shows serão dia 23 de abril no Theatro NET Rio, no Rio de Janeiro, e dias 1 e 2 de maio no Sesc 24 de Maio, em São Paulo.
“Não Há Abismo Em Que o Brasil Caiba” já está disponível em todas as plataformas digitais e também será lançado em CD pela gravadora Deck e em vinil pela Noize Record Club.
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