Search
Close this search box.

Emanuelle Araújo reverencia ritmos baianos em novo projeto

Em Eu Sou Negão, de 1987, o cantor Gerônimo narra o encontro de um bloco afro com uma banda do pop local – um estilo que mais tarde seria conhecido como axé music. A imagem da mistura das duas culturas, a princípio antagônicas, nos vem à mente ao escutarmos Vá na Paz do Senhor, novo single de Emanuelle Araújo, por conta da mistura dos tambores, fortemente influenciados pelo Olodum, com os metais inspirados nas canções de Gerônimo (cortesia de Marlon Sette, que trafega entre o merengue e aquelas trombetas do Apocalipse típicas do reggae). E no bum bum bum bum bum bum do tambor, fazendo seu deboche, transando o corpo e transando seu fricote, Emanuelle vai cantando assim: “Eu sou amor, eu sou o mar, eu sou você, eu sou a dor… Não fale mal de ninguém, senão a vida ensina. Conhecido pelo trabalho com artistas como Caetano Veloso, Erasmo Carlos, Gal Costa e Tim Maia, Kassin assina a produção do single e, com baixo synth e efeitos discretos de teclado, dá um ar de modernidade à canção composta pelo percussionista Leonardo Reis. A mixagem é de Michael Brauer, que já trabalhou com nomes como Coldplay, Bob Dylan, Aretha Franklin e The Rolling Stones.

O single é o ponto de partida de um álbum de Emanuelle Araújo dedicado aos ritmos baianos. Ele ganhou um clipe com direção de Nanda Costa e Magali Moraes. “O clipe brinca com essa coisa de ‘estar em casa'”, diz Emanuelle. O repertório ainda está sendo burilado, mas há parcerias com o poeta Capinam, Gil Vicente Tavares e Cezar Mendes, além acenos para que o cantor e compositor Tatau participe do projeto. Além deste, serão lançados mais quatro ou cinco singles até o final de 2024. A previsão de lançamento do álbum cheio é no Carnaval de 2025.

Vá na Paz do Senhor é uma expressão tipicamente baiana. Um de seus muitos significados – sim, ela varia de acordo com a ocasião – é “vá com Deus e me deixa ser feliz”. Mas a partir de hoje, Vá na paz do Senhor ganha uma interpretação adicional: ela marca a reconexão da cantora, atriz e dançarina Emanuelle Araújo com a música baiana.

Para falar a verdade, os dois jamais se separaram. “Nunca deixei de ser uma cantora de Carnaval”, diz ela, que tinha catorze anos quando subiu em um trio elétrico pela primeira vez. “Era uma banda cover do Olodum, tinha cerca de quarenta integrantes. “Aliás, foi para esse combo que o vocalista Xexéu compôs “Beija-Flor” – que posteriormente seria um dos hits da Timbalada.

Emanuelle cantou na Beer Banda (que também teve Ivete Sangalo como band leader) aos 16 anos e após alguns outros trabalhos com o trio elétrico foi escolhida para substituir Ivete Sangalo na Banda Eva. Segurou o posto até 2002, quando passou o microfone para Saulo Fernandes e foi explorar outros ambientes artísticos. E que ambientes: como atriz participou de novelas como A Favorita (2008) e do seriado Samantha (2018-2019), onde viveu a protagonista da história. No cinema viveu, entre outras, a rainha do bumbum Gretchen em Bingo, o Rei das Manhãs (2017), e mais recentemente atuou em Meu Sangue Ferve por Você (2024), produção que narra a história de amor de Sidney Magal com sua mulher, Magali West. A cantora é nada menos que a mãe da heroína da produção – e a vilã, que não deseja ver a filha casada com o homem que passou um tempão dizendo que vivia a sonhar com a cigana Sandra Rosa Madalena.

E… lembram quando Emanuelle falou que nunca deixou de ser uma cantora de carnaval? O Moinho, que formou no início dos anos 2000 ao lado do guitarrista Toni Costa e da percussionista Lan Lanh (que é baiana, assim como Emanuelle) fazia uma incursão pelas mais diferentes variações do samba. O trio pegou o renascimento do gênero por uma garotada, que percorria as casas noturnas da Lapa, no Rio –Teresa Cristina e o grupo Casuarina estão entre os contemporâneos do Moinho. De tempos em tempos, fez – e faz – incursões pela Orquestra Imperial, supergrupo que traz em sua formação alguns dos principais nomes do mainstream e da cena alternativa da MPB.

Emanuelle Araújo tem dois discos solo: O Problema é a Velocidade, de 2016, e Quero Viver sem Grilo – Uma Viagem a Jards Macalé, de 2020. O primeiro, produzido por Kassin, traz um amálgama de pop e Bahia. Moska e Arnaldo Antunes marcam presença, assim como Gerônimo e Márcio Mello, compositores de suas gerações diferentes da música baiana. Quero Viver sem Grilo traz a veia África-Bahia em canções como Tio Barnabé, com sua mistura de ijexá e afrobeat.

A Bahia sempre esteve presente no cancioneiro de Emanuelle Araújo. Quando ela se debruça sobre a música baiana, ela resgata o que tem de mais ancestral em sua trajetória. Mas, claro, com uma roupagem dos dias de hoje. “Cada vez mais ancestral, cada vez mais contemporânea”, diz. E quem não concordar com ela, “vá na paz do senhor”. Mas hão de concordar.

#tonamidia #claudelopes70 #emanuellearaujo

COMPARTILHE
SIGA-NOS NAS REDES SOCIAIS

Leita também